quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pais adolescentes, é hora de dividir responsabilidades


Pais adolescentes, é hora de dividir responsabilidades



Os adolescentes que se tornam pais precisam ser acolhidos com ternura e, na medida do possível, que sua experiência se torne positiva. Transformar uma situação como esta numa tragédia seria gerar mais problemas, como a rejeição da criança e constrangimentos para os pais adolescentes.
Diante de um fato concreto e complicado, a primeira atitude deve ser a acolhida. Porque ninguém merece mais ser acolhido do que aquele que está vivendo um momento difícil. Quando a gravidez não é algo planejado, premeditado, torna-se um problema complexo. Nestes casos não basta apenas dar uma lição de moral e apontar culpados, pois a causa é muito mais profunda; tem uma raiz sociológica.
Amor de pai
É dentro das escolas que se vê mais esta situação de pais adolescentes. Um dia desses, visitando uma escola, no curso de Magistério, entrei numa sala com 36 alunas. E lá havia quatro adolescentes grávidas. Perguntei à diretora como a escola tratava esta questão e ela respondeu: “como a maioria que estuda aqui é de mulheres, as meninas não sofrem rejeição. Pelo contrário, são até protegidas”. Você não veria esta atitude numa escola que não fosse predominantemente feminina. Numa escola mista há preconceito maior.
Uma das meninas, conversando comigo, relatou que não via há três meses o rapaz que a engravidou, e que seria justamente nesta hora que gostaria de segurar a mão dele, que precisaria do carinho dele. Ela disse que ao chegar em casa abraça a mãe, o pai, e que eles a entendem.
Sinto como se fosse na minha pele o que uma moça vive numa situação como esta. Percebo muitas vezes, na adolescente grávida, que ela busca muito mais o apoio paterno, do pai dela, do que do pai da criança. Naquela hora, não sei se é a criança ou a mãe adolescente que está precisando mais ser acolhida. É um drama, porque quando se fala de alguém com 13 ou 14 anos, falamos de alguém que é quase uma criança, ainda. Uma jovem nesta idade está precisando muito de formação para se educar como pessoa adulta.
O amor de pai de quem gerou este filho acontece naturalmente. Mas este pai pode sentir-se muito constrangido. E isto pode dar a impressão de que ele não ama a menina ou não gosta do filho. Talvez até nem ame o suficiente. Como diz a canção do Peninha: “Quando a gente ama é claro que a gente cuida; fala que me ama só que é da boca pra fora; ou você me engana ou não está maduro. Onde está você agora?” Até nesta canção popular está uma resposta para isto. Mas penso que o pai também vive um drama, precisa ser orientado para se conscientizar de que vale a pena estar perto, acompanhar, mesmo que não tenha planos de casamento.
Aprender com a experiência
É fundamental o adolescente-pai expressar sua paternidade, mesmo que não esteja preparado. É natural que se sinta fragilizado diante da situação, porque não tem economicamente como proteger o filho, depende dos seus pais. Mas aí os pais também podem orientar. Os pais precisam ajudar a encarar a realidade, apoiar para que o adolescente-pai participe da vida daquele alguém. Essa criança, mesmo não-planejada, vai precisar de amor. E aí, em primeiro lugar, é preciso entender este acontecimento. Tanto para a jovem grávida, quanto para o jovem que a engravidou. é importante que entendam o que está acontecendo. E isto, quem está de fora às vezes não percebe. E há uma cobrança enorme de responsabilidade.
A pior das violências que o ser humano sofre é ser exigido naquilo que ele não pode oferecer. Isso é preciso deixar claro para os adolescentes. Não adianta impor aos adolescentes uma responsabilidade de uma hora para outra. Não é assim. Não vamos nos iludir. A gente tem que ter um olhar de quem está dentro e um olhar de quem está fora do acontecimento. Mas quem está fora tem uma responsabilidade tão grande quanto quem gerou aquela vida.
Depois que a criança nasce, tudo muda. A criança é luz, é ternura quando chega. É impossível não se sensibilizar com uma criança que chega, mesmo num ambiente conflituoso.
Antonio Cardosocantor e compositor, Lins, SP.

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