quarta-feira, 29 de maio de 2013

Consumo e novas tecnologias. Para quem?

Consumo e novas tecnologias. Para quem?

Numa sociedade capitalista, estar excluído do mercado é estar excluído das condições dignas de vida. Porque as coisas necessárias para uma vida digna você consegue via mercado. A grande pergunta é: por que o sistema econômico no qual vivemos hoje exclui tanta gente das relações econômicas e sociais que passam através do mercado?
No contexto da sociedade atual, sem dúvida, a economia é o tema central, é a grande questão. Não somente porque nós vivemos numa sociedade capitalista, em que tudo está centrado na questão da economia e do aumento de capital, mas também porque na vida real as coisas passam pelo campo econômico, as coisas que nós precisamos para viver nós compramos. E para comprar é preciso estar inserido no mercado.
O que é o mercado?
De uma forma bem simples, mercado é espaço de compra e venda. Para você entrar no mercado você precisa ter alguma coisa para trocar. Ou você tem dinheiro e compra; ou você tem um trabalho para vender, para receber salário; ou você tem uma mercadoria para vender, para pegar o dinheiro e comprar as coisas que precisa. Então, de uma forma simples, mercado é um espaço de troca. Nesse sentido, mercado é bom. Mercado é uma coisa necessária, uma invenção humana, de muito tempo atrás, que possibilitou melhora nas condições de vida das pessoas.
O problema é que no sistema capitalista, as regras do mercado passaram a ser as únicas regras. Antigamente, se alguém não tinha acesso ao mercado, se não tinha como comer, a sociedade, a comunidade ou a vizinhança ajudava. Você tinha as relações solidárias, relações comunitárias suprindo problemas de mercado. Numa sociedade capitalista, o mercado passa a ser o principal regulador da vida social. Então as pessoas, ou porque não têm emprego, ou porque não têm renda suficiente, não conseguem entrar no mercado para comprar as coisas necessárias para viver, e viver de uma forma digna.
O ser humano e o consumo
O ser humano é um ser de desejos e necessidades. Portanto o ser humano não vive só pela necessidade, também deseja coisas. E fundamentalmente deseja ser reconhecido pelas outras pessoas. O grande desafio é tentar entender quais são os mecanismos de reconhecimento na sociedade.
Nas sociedades antigas, por exemplo, ser honrado era um valor importante para ser reconhecido como uma boa pessoa. Na sociedade da cultura de consumo de hoje você é reconhecido pelo seu padrão de consumo. Eu desejo ser reconhecido, então para isso eu preciso comprar as coisas que não são necessárias para a sobrevivência imediata, mas são necessárias para ser reconhecido. Então aí aparecem tênis caros, celulares e carros sofisticados que as pessoas passam a desejar. Com isso, o que o capitalismo faz é fomentar esse desejo de consumo, reforçando a ideia de classificação de pessoas por padrão de consumo. Então os pobres, além de não terem acesso a uma vida boa, eles também têm outro problema: são frustrados no desejo de reconhecimento.
Novos caminhos
O primeiro desafio dos cidadãos é possibilitar espaços de relacionamento, nos quais o consumo não seja critério de reconhecimento. Uma das grandes contribuições que as comunidades cristãs fazem no mundo de hoje é permitir que pessoas simples, sem grande acesso ao consumo, possam ser reconhecidas como pessoas, porque são reconhecidas como seres humanos. E mesmo as pessoas que têm acesso ao consumo têm a experiência de um reconhecimento humano verdadeiro, não através do padrão de consumo.
O segundo aspecto é lutar para criar espaços de sobrevivência econômica melhor para pessoas excluídas. Criar possibilidades como a economia popular e solidária, práticas de educação profissionalizante, seja em formas tradicionais, seja em formas alternativas das práticas comunitárias.
O terceiro aspecto é fazer uma crítica na sociedade a esse caráter perverso de uma economia baseada somente na acumulação do capital, que, além de excluir as pessoas da condição de uma vida digna, também gera uma antropologia equivocada de achar que o ser humano é aquilo que consome.
Jung Mo Sungprofessor de Pós-Graduação das Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo.Artigo publicado na edição nº 404, jornal Mundo Jovem, março de 2010, página 15.

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